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Caraterização Socioeconómica
A TFT constitui-se hoje como uma nova centralidade. De região periférica no contexto nacional, passou a favorecida quando a referência espacial se alargou ao espaço ibérico e à União Europeia.
Para esta nova centralidade contribuíram fatores endógenos ao país – construção da A4 e uma melhoria nas vias intrarregionais; e fatores exógenos – estação de TGV da linha Madrid/Vigo em Puebla de Sanabria, a 30 km de Bragança.
Por outro lado, cerca de 55% da TFT é abrangida por áreas protegidas, o que faz desta região um destino privilegiado pela qualidade do ambiente e as potencialidades de um Turismo Verde.
Constitui-se também a TFT como um repositório inigualável de saberes ancestrais, traduzidos em produtos únicos e de excelência, para serem convenientemente apreciados e valorizados. É também na TFT que anualmente concluem a sua formação académica muitas centenas de jovens, alguns desejosos de aqui se fixarem e com capacidade de resposta adequada à inovação e às novas tecnologias.
Do ponto de vista demográfico esta região é geralmente assumida como pouco dinâmica e sujeita a um contínuo processo de esvaziamento populacional.
Ao longo das últimas décadas e de um modo generalizado nos cinco concelhos que a constituem, ressentiu-se com o êxodo maciço de população, primeiro para o continente americano (Brasil, sobretudo); depois, nas décadas de 50 e 60, para os países da Europa Central (França e Alemanha, principalmente) e para o Ultramar Português; e, finalmente, para o litoral (áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto) e para as capitais de distrito.
Assim, em pouco mais de meio século, a TFT viu reduzida em cerca de 38% a sua população. Quando em 1950 apenas existiam 8 freguesias com menos de 300 habitantes, em 2011 este número passou para 99 freguesias. Esta evolução reflete, indubitavelmente, o processo contínuo de perda de população a que têm estado sujeitas as freguesias rurais dos concelhos nordestinos.
Apesar das taxas de analfabetismo verificadas, que têm, apesar de tudo, acompanhado a diminuição progressiva que se regista no país, quando se observam os níveis de ensino atingidos pela população residente constata-se, claramente, que o concelho de Bragança tem uma situação privilegiada na região, quer pelo menor número de analfabetos existentes, quer, sobretudo, pelo elevado número de habitantes com formação superior. Na atualidade, Bragança tem quatro estabelecimentos de ensino superior público, integrados no Instituto Politécnico e um de ensino privado.
Este significativo valor da população com formação superior em Bragança faz deste concelho uma zona potencial de fixação de empresas que utilizam tecnologia avançada e querem usufruir da nova e importante centralidade que a proximidade ao mercado europeu (sobretudo do espanhol, com os seus 50 milhões de habitantes) oferece. É evidente que, por detrás de tão significativo indicador está o Instituto Politécnico de Bragança.
A análise comparativa da estrutura setorial da população ativa dos vários concelhos que compõem a TFT é, em grande medida, semelhante pois, em Bragança, o setor primário tem registado uma diminuição sucessiva da população ativa desde 1970, enquanto no setor secundário o emprego criado absorve apenas uma pequena faixa da população ativa, fruto do universo de microempresas onde predomina o autoemprego. O setor terciário tem registado um reforço muito significativo, consequência natural de Bragança ser, fundamentalmente, um centro de serviços.
No total da TFT existem 6 758 empresas, com o concelho de Bragança a albergar mais de metade destas. As empresas de comércio e serviços são as mais representativas no tecido empresarial, com mais de 20% das empresas nos concelhos da Terra Fria. No concelho de Vimioso, este setor empresarial representa aproximadamente 32% do total das empresas. Este peso do setor terciário é consistente com a realidade nacional e também com a região norte, na qual representa 24,6%. As empresas de alojamento, restauração e similares e de construção, estão também representadas em todos os concelhos da TFT, representando cada uma delas, valores entre os 10% e 12%. As atividades do setor primário, pouco representativas em Bragança (6,9%), muito por força da crescente urbanização e da terciarização da economia, são no entanto bastante relevantes nos restantes concelhos da TFT, nomeadamente em Mogadouro (20,4%) ou Vimioso (15,7%). No que concerne à atividade agrícola, estima-se que cerca de 54% do território da TFT tem aptidão para a agricultura. Ainda neste contexto, um aspeto relevante do território prende-se com o relevo e a altitude desta região. O relevo é mais acentuado nos concelhos de Vinhais, Bragança e Vimioso, onde a área com aptidão para a agricultura é mais dispersa e em menor proporção. Nos concelhos de Miranda do Douro e Mogadouro (Planalto Mirandês), a área com aptidão para a agricultura é bem mais extensa, ainda que esteja situada a altitudes elevadas, zona privilegiada para o cultivo de cereais. Mas mesmo com condições de produção que não favorecem a adoção de tecnologias intensivas, existe um conjunto diversificado de produtos de excelência, perfeitamente adaptados às condições ambientais e aos diversos condicionalismos (socioeconómicos e edafoclimáticos), fruto de um saber-fazer acumulado ao longo do tempo, que tem de ser valorizado. Citem-se, entre outras, as seguintes produções:
- Castanha
O castanheiro é uma cultura importante no país, quer pela produção de madeira, quer pela produção de fruto. A área total de castanheiros, a nível nacional, corresponde a mais de 8,5% da área mundial.
Em Portugal a produção de castanha está concentrada em Trás-os-Montes e Alto Douro, mas cerca de 80% da área plantada e da castanha produzida em Portugal provém da região de Trás-os-Montes, com especial incidência nos concelhos de Bragança e de Vinhais. A produção de castanha destes dois concelhos, quase toda exportada para os mercados do Brasil, França, Itália e Espanha, representa um valor global de cerca de 25 milhões de euros, num total de cerca de 11 milhões para toda a TFT. - Batata
De reconhecida qualidade, a batata de Trás-os-Montes tem sofrido aqui, nos últimos anos, um decréscimo da sua área de cultivo. Esta evolução ficará a dever-se em grande medida aos problemas de escoamento e à grande variação do preço, para além da diminuição do número de produtores. Mesmo assim a batata é um produto com um peso significativo na TFT. Metade da área de batata desta região concentra-se nos concelhos de Bragança e Vinhais. - Centeio
A TFT é a principal região produtora de centeio do país.
Os cereais (trigo e centeio) desta região, estão presentes na maior parte dos seus sistemas produtivos, contribuindo de modo relevante para a economia das explorações agrícolas. - Olivicultura
A estrutura produtiva do azeite na TFT carateriza-se por uma reduzida dimensão das explorações (cerca de 13 262 ha na TFT, de acordo com o Recenseamento Agrícola de 2009), olivais envelhecidos, baixos níveis de mecanização, principalmente da colheita, com implicações nos respetivos custos de produção e baixas produtividades físicas. - Bovinos autóctones
O efetivo bovino autóctone na TFT era de cerca de 5.000 cabeças da raça mirandesa em 1999, espalhadas pelos cinco concelhos, com destaque especial para Bragança (1.598 efetivos) e Vinhais (1.035 efetivos). Atualmente este número reduziu-se para cerca de 3.600 efetivos.
Tendo em vista a valorização da carne proveniente das raças bovinas autóctones da TFT, encontram-se protegidas as designações “carne mirandesa DOP” e “carne de bovino cruzado da Terra Fria Transmontana IGP” (Indicação Geográfica Protegida). A produção anual de carne mirandesa é, atualmente, de mais de 260 toneladas, com um valor de mercado de, aproximadamente, dois milhões de euros. - Ovinos e caprinos
A criação de pequenos ruminantes (ovinos e caprinos) tem uma grande importância económica e social na TFT, existindo no ano 2009 cerca de 128.000 animais. - Produção suína e fumeiro tradicional
O porco foi, durante muito tempo, a principal fonte de proteína animal. Ainda hoje muitas casas rurais da TFT abatem anualmente pelo menos um porco para autoconsumo.
Quase um terço das explorações agrícolas da TFT possuem suínos, existindo em 2009 um total de cerca de 7250 efetivos.
A tradição de criação de suínos está relacionada com a produção de salsicharia e fumeiro e dos seus múltiplos derivados. O fumeiro, para além de estar presente na dieta regular das populações desta região, constitui uma fonte complementar de rendimento para muitas famílias. Só a nível do concelho de Vinhais, no ano de 2000, estima-se que a produção vendida de salpicões e linguiças tenha atingido 160 mil euros. A matéria-prima destes enchidos é o porco bísaro, um recurso genético autóctone, com uma alimentação à base de produtos naturais, onde se destaca a castanha.
Todo o processo de produção é artesanal e o apoio comunitário ao Fumeiro de Vinhais tem protegido o modo de fabrico particular destes enchidos, controlando toda a fileira produtiva. A Feira do Fumeiro de Vinhais é o certame em que o fumeiro de Vinhais tem maior procura e a qualidade dos produtos ali comercializados tem atraído um número crescente de visitantes.
- Mel
O mel é também um dos produtos a destacar na região da TFT, pela excelência da sua qualidade. Está diluído por todo o território, salientando-se o Parque Natural de Montesinho, onde existe um Agrupamento de Produtores de Mel DOP e o concelho de Vimioso onde é produzido em Modo de Produção Biológica (MPB). Em Mogadouro localiza-se a sede da Associação de Apicultores do Parque Natural do Douro Internacional, cuja ação se estende ao concelho de Miranda do Douro.