O mirandês não é um dialeto, não é uma variante sincrónica na evolução do português. Não tem apenas diferenças tónicas, mas morfológicas, sintáticas e lexicais. É um idioma oriundo do latim, misto entre o leonês e o galego-português e com forte influência deste no vocabulário e que remonta ao povoamento, no final da Idade Média, dos enclaves raianos da antiga Terra de Miranda, onde ficou enquistado pelo isolamento geográfico.
É ainda mal conhecida a filologia mirandesa, mas reconhecem-se como suas variantes o guadramilês, o riodonorês e o sendinês, falados nas áreas de Guadramil, de Rio de Onor e de Sendim.
A população local é ainda hoje bilingue, utilizando o mirandês na convivência familiar e recorrendo ao português para solenizar as relações sociais. E ela exprime a diferença, prestigiando claramente o português quando diferencia o simples “falar” na sua língua tradicional, do “falar” fidalgo quando o faz na língua pátria. Este recalcamento quase fez desaparecer o mirandês, sendo necessário muito esforço de autoestima para que se não perdesse definitivamente esta singularidade. Hoje já se aprende nos bancos da escola e está oficialmente reconhecido como língua europeia minoritária e segunda língua oficial portuguesa.
Ah! Jasus Ninico!
Astros s’ açandirum
Tanta alegria bai
Nessa nuite linda.
No ciêlo e na têrra
Ls anjos cantarum
Filho de Tius Pai!
D’ alegria infinda!
Cantaru ls pastoricos
Melhor fura, Nino,
Al som dals pandeiros.
Du’ home ion num fura!
Bailam las pastoras
Por bias de mi
Al som dals gaiteiros.
Tius sufre amargura.
Astros s’ açandirum
Ion son pubrezico,
Na mie nuite negra.
Bós todo teneis.
Ando siêmpre triste,
Dai-me bôssa graça,
Nada m’ alegra.
Rico me fareis!
Miu Nino Jasus,
Pertugal iê bôsso,
Qu’al bôsso Natal
Cumo bós naciu.
Seia sempre alegre
Pobre e pequenhico,
Neste Pertugal.
Só num tenê friu.
Quadras natalícias populares em
língua mirandesa, recolhidas em 1983,
em Genísio - Miranda do Douro.